sábado, 28 de julho de 2007

O Café Aroeira... VI

ELE (num pico de criatividade)
O empregado do Café Rick´s Aroeira Café olha atentamente para mim, como se quisesse descobrir algo e pergunta de chofre:
- Porque não se levanta e vai falar com a nossa cliente que costuma estar sentada naquela mesa?
- Não percebo. Acha que é isso que eu desejo?
- Sim, E penso que é um sentimento comum aos dois.
- E se eu lhe disser que sou tímido, acredita?
- Claro que não, mas pode continuar a dizer e principalmente poderá continuar a pensar.
- Mas sou! E vou provar-lhe: não sei o que dizer, nem como dizer, nada. E se lá estivesse, provavelmente coraria... Escrever é muito mais simples
- Já o “champô” dizia isso...
- Dois em um, amaciador ou outra coisa qualquer é um assunto encerrado!
Senta-se o maestro na nossa mesa e afirma:
- Porque não tenta um tango. A minha orquestra poderá acompanha-lo. Quer um exemplo?
No sabrás, nunca sabrás
Lo que es morir mil veces
De ansiedad
No podrás nunca entender
Lo que es amar y aloquecer.
Tus labios que quemas,
Tus ojos que embriagan
Y que torturan mi razón...
Sed que me hace arder
Y que me enciende el pecho de pasión.
Estás clavada en mí,
Te siento latir
Abrasador de mis sienes,
Te adoro quando estás y
Te amo mucho más
cuando estás lejos de mi”

- Serve? – pergunta o maestro. Chama-se “Pasional”
- Não. Não gosto de: “te amo mucho más cuando estás lejos de mi”
- E não quer enviar uma carta – interrompe o carteiro
- Já disse, tal como o Pessoa afirmou para a sua querida Ofélia: “todas as cartas de amor são ridículas”
- Quer um exemplo? – pergunta-me o carteiro. Nas cartas de amor da Soror Mariana ela afirma: “Ignoro por que motivo te escrevo...”
- Mais outra que tem dúvidas – comento
- Temos que encantar uma solução – afirma um estranho que entrou nesse momento no café.
- Quem é você? – perguntamos todos em uníssono
- Ninguém!
- Frei Luís de Sousa? – perguntamos todos quase ao mesmo tempo.
- Não, António Silva vendedor ambulante. Estava a dizer... “ninguém” deixa de comprar os meus produtos. Mas vocês não deixaram que eu acabasse a frase.
- E então, que produtos vende?
- Um pouco de tudo, mas verdadeiramente sou especialista em champôs.
- Todos nos rimos às gargalhadas deixando o vendedor de boca aberta não percebendo a razão de tanto riso.
- Disse algo de errado?
- Não, nada disso, Se é especialista em champôs fale-nos um pouco da fórmula “dois em um”
- Temos duas variante: ou dois produtos diferentes num só... ou um produto com duas características. Temos várias marcas. Querem ver?
- Não! Dissemos todos quase ao mesmo tempo...
- E no nosso caso que será? – pergunto eu
- Para mim, diz o carteiro, preferia duas pessoas .- assim ao menos eram dois clientes... que são os que tenho.
- Na música apostamos na outra versão – Vinícius tem um samba com duas notas...
- Temos que acabar com este mistério. Penso que o “Champô” é um de nós. Provavelmente o Carteiro, Não será você?
- Eu não, mas poderia ser o meu cliente... Pablo Neruda
- Esse não pode ser – afirmei
- Porquê? - perguntaram todos?
- Neruda não escreve assim!
Convencidos perguntaram
- E então quem será?
Todos se viraram para o empregado do Café
- Você?
- Estou sempre aqui próximo dos meus clientes. Não tenho acesso a essas modernices. Ainda trabalho com uma “caixa registadora manual”...
Reparei em vários olhares inquisidores que se viravam para mim...
- Não será você?

“Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu.
Que triste seria como tu se tivesse sido tu.
Que triste a grande hora alegre em que primeiro te ouvi!
Depois tudo é cansaço neste mundo subjectivado,
Tudo é esforço neste mundo onde se querem coisas,
Tudo é mentira neste mundo onde se pensam coisas,
Tudo é outra coisa neste mundo onde tudo se sente.
Depois, tenho sido como um mendigo deixado ao relento
Pela indiferença de toda a vila.
Depois, tenho sido como as ervas arrancadas,
Deixadas aos molhos em alinhamentos sem sentido.
Depois, tenho sido eu, sim eu, por minha desgraça,
E eu por minha desgraça, não sou eu nem outro nem ninguém.
(Álvaro de Campos)

4 comentários:

Anónimo disse...

2ª intervenção
Como observador afirmo:
a) estou a gostar da história
b) estão a representar ainda melhor do que o inicialmente previ...

Teka – O Café é teu! Foste tu que o “abriste” e “fomentaste” aos (anónimos ou não) que aparecessem sempre sem nunca pedires que se identificassem. Não o “trespasses”!

Antó(nimo) - Foi com algum humor que reparei como fugiste à cena do D. Giovanni... tens “ar” de quem se sabe movimentar muito bem no meio das dificuldades...
Aceito, com sentido de humor redobrado, que estejam a brincar comigo no Café.
Diria: só brincamos com quem gostamos...

Provocação: Convidem-me para esse Café.
Peço-vos, no entanto, que sejam mantidas as seguintes condições:
- que a Teka esteja presente!
- que haja sedução, sempre!
- que seja acompanhado com o prazer da escrita e da leitura e “regada” com poesia (iniciado pela Teka muito antes de ti)
- que seja escolhido um bom vinho em vez do Gordon´s (que também gosto)
sugestões:
branco – Quinta de Monte d´Óiro – Madrigal 2005
tinto – Cortes de Cima – reserva 2003

perguntas:
1 - Também não percebi essa história da mota.
2 – Porque é que tu e a Teka não se falam no Café?

Anónimo disse...

E eu, e eu...
2 em 1 tu também me pareces ser interessante. Olha que eu também gosto de escrever.
Ai ai já estou a ver que esta história vai acabar. Ao menos que eu esteja no grupo.

Sim porque é não se falam no café? falas com o carteiro, com o empregado, com o maestro.
E por onde é que ela anda?
Terra de principes e princesas?
Bom mas não exagerem na conversa. A história não pode é acabar, que a TV anda uma desgraça.

Anónimo disse...

E por favor, não liguem à evidência que apareceu noutra posta.

Anónimo disse...

...porque é que a "evidência" a incomodou estrelita? Será por ter acertado?