"Uma vez perguntaram a Jorge Amado o que era a Felicidade.
E ele respondeu:
"Felicidade é descer do avião."
(In Sinais de Fernando Alves, 20-6-2007)
E disse ainda brilhantemente Fernando Alves: "Gosto de chegar a aeroportos, mas também de os percorrer vendo o que resta de improváveis lugares em cada rosto, em cada modo de andar".
Também eu sou tocada pelo fascínio de me misturar entre gente que chega e parte carregando tantas histórias na bagagem, tantas aventuras e desventuras.
Gosto de me embrenhar entre corpos apressados, à procura de portas de embarque, a comparar preços de perfumes, vinhos e cremes milagrosos, a comprar pacotes de tabaco, revistas e pastilhas elásticas, a enganar o estomago de fast food.
Gosto de olhar a atrapalhação dos estreantes ávidos de informação. Num misto de receio e curiosidade, percorrem os espaços, ansiosos.
Gosto de observar as famílias numerosas com os seus pertences concentrados nas cadeiras com um guardião que exige ser rendido a cada 5 minutos.
Gosto da segurança e da indiferença ao que os rodeia, dos executivos. Viajam com uma pasta, fato e gravata impecáveis, sentam-se tranquilos a ler o seu jornal que nunca é o "Correio da Manhã", atendem telemóveis e consultam palms. Sabem sempre onde, quando embarcam, entram decididos no avião, maquinalmente guardam os seus pertences e começam a trabalhar.
Gosto de olhar rostos, adivinhar histórias de vida e destinos prováveis.
Gosto de me sentir envolvida pela expectativa do "descer do avião", de ser inundada por outra cultura, de me deixar surpreender, de tocar outros mundos, de sentir outros perfumes, outras cores e de aprender. Aprender... sempre!
Gosto, ainda mais... quando posso partilhar todo este meu sentir!
Apesar de tudo...
Ainda gosto de pessoas!