sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Porque é muito bonito...

AS ESTRELAS

Somos as estrelas que cantam.
Cantamos com a nossa luz.
Somos os pássaros de fogo.
Voamos para lá do céu.
A nossa luz é uma voz.
Abrimos uma estrada para os espíritos
passarem.
Entre nós há três caçadores
caçando um urso.
Nunca houve tempo
em que não caçavam.
Não tememos as montanhas.
Este é o caminho das estrelas

"Algonquinos"
In
ROSA DO MUNDO
2001 poemas para o futuro, pp 161

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Escolhas...


DE PROFUNDIS...

foste sempre aquele que farejava a tempestade
antes das aves marinhas
o terror do descalabro mandava calar tua boca bem esculpida
teus olhos já sem brilho

nenhuma palavra tinhas que previsse o longo naufrágio
que já boiava em vagas de crista aliciante

gritaste aos sete ventos todas as palavras
para proclamar as tuas vidas
que apenas te conduziram à forma derradeira

mas os ventos eram contrários e nada traziam
para a baía azul onde eu
sentado
meditava

e foi assim que caminhaste o teu caminho

esquálido e sempre descontente

agora já é tarde, mas a pergunta fica:
porque não falaste a tempo?
porque não choraste em campo aberto?
porque não gritaste ao mundo sádico e áspero
tua angústia alucinante
tua profunda infelicidade?

agora há apenas mais um pouco de areia em marrocos...


(José Diniz)
In O Homem (1993). Ed Tertúlia. Lisboa. pp 79

sábado, 24 de novembro de 2007

Hoje, eu não me recomendo...


Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
(...)

Amanhã eu sei, já passa
Mas agora eu estou assim...
Hoje perdi toda a graça
Não queiras saber de mim

Dança tu que eu fico assim
Porque eu estou que não me entendo
Não queiras saber de mim
Hoje não me recomendo

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Ar Condicionado...

Amanheço para mais uma semana de ritmos e rituais adivinhados.
Atravesso esta minha Lisboa que hoje se veste de sombra e acordou lavada.
Enfrento o dia, já esquecida do que é trabalhar com o “ar, condicionado” pela temperatura que faz lá fora.
Estranhamente hoje tenho mais “clientes” que espreitam pela porta do meu gabinete e simpaticamente insistem em desejar-me os “bons dias” e saber como estou, várias vezes, ao longo de todo o dia. Entram, sentam-se e alongam-se, nos relatos das suas aventuras de “fim-de-semana”, nas suas perguntas, nas suas preocupações.
Hoje, foi o primeiro dia de frio!
Hoje, foi o primeiro dia em que liguei o aquecimento que todos os anos trago de casa.
Amanhã vou trocar o meu colar pelo cachecol e preparar-me para mais “clientes” simpáticos/enregelados que vão continuar a querer saber como estou, várias vezes por dia, pelo menos até chegarem os primeiros dias solarengos da Primavera.
Como é possível aprender e ensinar com frio?

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

II Grupo de Encontro... o primeiro...


Inscrevi-me a medo, sem saber o que iria encontrar. O panfleto que tinha à frente em nada me esclarecia. Reunião comunitária, reunião de grande grupo, reunião de pequeno grupo eram termos que não me diziam nada. Afinal qual seria o tema?
O facto de ficar “fechada” durante 3 dias com pessoas que nunca tinha visto assustava-me. Por outro lado era um desafio que me atraía. Saber até onde eu poderia ir, pôr-me à prova perante uma situação nova, fez-me pegar na mala e “embarcar” de olhos vendados, numa viagem cujo destino eu desconhecia.
Os primeiros minutos foram desconfortáveis, toda a azáfama da chegada de pessoas incógnitas que na sua maioria se conheciam entre si, a distribuição dos quartos, a perspectiva de adormecer e acordar no quarto com uma pessoa desconhecida para mim, não contribuíram em nada para a minha convicção de querer ser uma “Rogeriana” um dia.
O primeiro momento foi assustador, setenta pessoas todas sentadas à volta de uma sala, numa roda fria e silenciosa, onde só intervinha quem queria, numa liberdade, para mim, incómoda. No final da primeira reunião alguém dizia que no último dia seriamos um grupo, coisa que me pareceu impossível.
Fui percebendo ao longo dos dias, dos vários momentos e das sessões que o grupo seria o que quiséssemos fazer dele, deixando-me também numa posição pouco confortável, uma vez que sentia, como membro do grupo, alguma responsabilidade de o levar a bom porto, ou pelo menos ter um papel activo. A pouco e pouco, também me apercebi que era aceite quer interviesse ou não, quer emitisse uma opinião ou fizesse um desabafo. A partir do momento em que me senti aceite, estranhamente, as ideias e os sentimentos fluíam em catadupa com uma urgência inexplicável. Quase não intervim mas senti-me confortável na minha introspecção acompanhada. Ao longo dos dias senti-me irritada com alguns elementos, empática com outros, as lágrimas saltaram dos meus olhos, ri, passei por todas as tonalidades dos meus sentimentos.
Na última sessão fiz um balanço dos dias. Curiosamente não me tinha sentido só, apesar de não conhecer ninguém, não tinha feito diferença o facto de ter dormido com uma estranha, convivi, conversei e diverti-me com as setenta pessoas e acima de tudo agora elas não eram caras incógnitas mas sim rostos com personalidade própria unidas por um sentimento de empatia e um percurso conjunto. Tinha sido uma experiência única.
Ao pegar no carro para regressar a Lisboa não percebi logo o que tinha mudado em mim, mas senti uma paz interior, uma vontade de mudar o mundo, uma força que vinha de dentro.
Mal eu sabia que no dia seguinte toda essa força iria ser necessária para enfrentar uma partida que a vida me iria pregar...
E foi assim que me tornei uma "Rogeriana" convicta, experienciando na pele as técnicas da Terapia Centrada no Cliente/Abordagem Centrada na Pessoa que venho estudando e aperfeiçoando na minha prática profissional ao longo dos últimos anos.

sábado, 10 de novembro de 2007

Correntes...

Hoje acordei muito cedo (quase ontem).
Não gosto da palavra insónia. Um grande amigo, carinhosamente, diz que esteve “com a Sónia”. Insónia é uma palavra desagradável. Nunca me preocupo muito com ela, se me assola, levanto-me e gosto de ficar a remexer, nos meus livros, nos meus filmes, nas minhas fotografias, nos meus “papelinhos”. Gosto de estar na minha sala, com a minha música a ver o dia nascer.
Da minha janela, tenho a sorte de ver a serra de Sintra e o recorte do Palácio da Pena, lugares especiais da minha infância. Sou uma afortunada, há uns meses levei lá uns amigos espanhóis e enquanto palmilhava o Castelo dos Mouros (agora pago), lembrei-me das mil e uma tardes em que a minha mãe ficava a ler no carro e eu e os meus amigos corríamos soltos por entre muralhas e guaritas a brincar aos príncipes e às princesas (outros tempos).
“As conversas são como as cerejas”, e sentei-me eu aqui para escrever um post sobre correntes! Aquelas que se recebem na Net e nos acontecem desgraças imensuráveis se as quebrarmos. Lembrei-me também que quando era “aborrescente”, no tempo em que ainda nem se sabia o que era um computador, nem fotocópias e as correntes chegavam por carta, tinha uma amiga que as respeitava e meticulosamente as copiava com uma letra redondinha, com receio de alguma intempérie. Certamente ficou com uma caligrafia melhor que a minha. Detesto correntes e similares.
Numa destas noites, a viajar à boleia de diferentes olhares deste nosso mundo, por entre blogues sugeridos, encontro uma “corrente”, num blogue de que gostei especialmente (
http://ruialme.blogspot.com/). Senti-me desafiada e lanço aqui também o desafio.
Não, não vos acontece nada de mal se mandarem a corrente às ortigas!

Regras:
1. Pegue no livro mais próximo, com mais de 161 páginas – implica aleatoriedade, não tente escolher o livro;
2. Abra o livro na página 161;
3. Na referida página procurar a 5.ª frase completa;
4. Transcreva na íntegra para o seu blogue (ou para este) a frase encontrada;
5. Aumente, de forma exponencial, a improdutividade, fazendo passar o desafio a mais cinco bloggers à escolha.

Eu deixo aqui a minha:
"Eu pensava que este Whisky era excelente até que você me disse que não." In O Quinteto de Buenos Aires. Manuel Vásquez Montalbán. pp 161. (não, não estava na hora de serviço).
E passo a outros 5, por exemplo: Téllo, Embirrante, Luzinhas, Antó(nimo), Museólogo... se estiverem para aí virados... ou a outros.

Quem sabe se com uma das frases se começa uma boa história, numa noite de insónia ao som do fantástico Keith Jarrett, em “The melody at nigth, with you” que passa aqui neste momento...

Insónias...

Insónia

Que horas são? É escuro. Quase as três.
Parece que não torno a fechar os olhos.
O pastor da aldeia faz estalar o chicote à alvorada.
O vento frio soprará na janela
que dá para o pátio.
E estou só.
Não é verdade. Com
toda a onda penetrante do teu
ser puro, tu estás comigo.

Boris Pasternak
(In Poetas Russos, tradução e prólogo de Manuel Seabra, Relógio d'Água, 1995)
http://ruialme.blogspot.com/

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Porque... Sim!


Mar Sonoro

Mar sonoro, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

(Sophia de Mello Breyner)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

I Grupo de encontro...

Pela quinta vez, suspendo a minha vida durante três dias e rumo, este ano a Palmela, com o mesmo frio na barriga de sempre mas com a certeza (de sempre também) de dar mais um passo consistente na minha formação pessoal e profissional.

Para trás deixo, exausta, o dia atulhado de reuniões, telefonemas, jovens que atendi, outros que não consegui atender, conversas interrompidas, e até um mal entendido que me deixa desconfortável. Deixo também a família e os amigos descansados porque já vão estando habituados a estas minhas ausências e certos de que não entrei nem para uma seita, nem para uma religião desconhecida e, que apesar de não entenderem, ainda muito bem, o que "por lá" se passa, sabem que voltarei sempre a "velha" Teka.

São 20h, entro na mesma quinta, onde me iniciei e não posso deixar de recordar aquele Novembro de 2002. Vim aqui também, este ano, para me reconciliar, para encerrar de vez o único capítulo que está entreaberto daqueles tempos, porque muito marcado por este lugar lindíssimo.

Como veterana de Grupos de Encontros venho munida das ferramentas básicas: abertura, responsabilidade, vontade para estar comigo e com os outros, alegria por rever alguns amigos, tampões para os ouvidos, borracha de água quente, agasalhos extras.

Ao fim de 3 dias intensos parto, exausta também, mas com a convicção inabalada de que este caminho que escolhi é o MEU CAMINHO...

Até para o ano!Carl Rogers dedica parte da sua vida profissional a desenvolver e experimentar a mudança de atitudes, comportamentos em grupos intensivos e organizados para o efeito.
Corria a década de 40 do séc. passado e a investigação na área do desenvolvimento e aperfeiçoamento da comunicação e relações interpessoais bebia conceitos desenvolvidos por Kurt Lewin, pela Gestalt e pela Abordagem Centrada na Pessoa.

Rogers refere que com a desumanização das sociedades, em que o outro não tem espaço e a constante luta para vencer o dia a dia e sobreviver a todas as necessidades materiais, frequentemente esquecemos as nossas necessidades psicológicas. Necessidades essas que consistem na urgência da vivência de relações próximas e verdadeiras, bem como a manifestação espontânea de sentimentos e emoções num clima de aceitação incondicional.

Surge o interesse pelas experiências intensas de grupo a que Rogers não é alheio, introduzindo e desenvolvendo de forma sistemática, uma modalidade a que denominou "Grupo de Encontro" com a finalidade de "acentuar o crescimento pessoal e o desenvolvimento, o aperfeiçoamento da comunicação e das relações interpessoais, através de um processo experimental." Carl Rogers (1970).

Todos os Grupos de Encontro têm, em regra, algumas características comuns:

  • Experiência intensa de grupo durante várias horas;
  • O grupo não é estruturado;
  • Existência de um facilitador cujo seu papel é fundamental para o funcionamento construtivo do grupo;
  • É construída uma sensação de comunicação autentica;
  • Facilitação da expressão de sentimentos e pensamentos;
  • O grupo caminha na linha dos objectivos e direcções pessoais;
  • O grupo concentra-se no “processo e na dinâmica das interacções pessoais imediatas” (Rogers, 1970);
  • Um clima de confiança mútua.

Desde 1984 que em Portugal são promovidos "Grupos de Encontro segundo o modelo de Carl Rogers.

Para saber mais:

http://www.appcpc.com/

Rogers, C. (1970). Grupos de Encontro. 8ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2002.