quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Escolhas...


DE PROFUNDIS...

foste sempre aquele que farejava a tempestade
antes das aves marinhas
o terror do descalabro mandava calar tua boca bem esculpida
teus olhos já sem brilho

nenhuma palavra tinhas que previsse o longo naufrágio
que já boiava em vagas de crista aliciante

gritaste aos sete ventos todas as palavras
para proclamar as tuas vidas
que apenas te conduziram à forma derradeira

mas os ventos eram contrários e nada traziam
para a baía azul onde eu
sentado
meditava

e foi assim que caminhaste o teu caminho

esquálido e sempre descontente

agora já é tarde, mas a pergunta fica:
porque não falaste a tempo?
porque não choraste em campo aberto?
porque não gritaste ao mundo sádico e áspero
tua angústia alucinante
tua profunda infelicidade?

agora há apenas mais um pouco de areia em marrocos...


(José Diniz)
In O Homem (1993). Ed Tertúlia. Lisboa. pp 79

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