sábado, 10 de maio de 2008

A não perder...


Um documentário perturbador para, quem como eu, pouco deu pela Ditadura.
Decorria o ano de 1959 e chegavam às casas dos portugueses cartas. Escritos de mobilização a um movimento de mulheres que se desconhecia existir. O objectivo, perpetuar o regime de Salazar, chamar mais mulheres para a “causa” sob a capa do “Deus, Pátria e Família”.
Algumas daquelas mulheres que responderam às cartas, pareciam-se com a minha avó, o mesmo penteado, o mesmo tipo de vestido, o mesmo jeito de tapar os joelhos com as mãos enrugadas, algumas, as mesmas vivências. Os discursos, certamente muito diferentes dos de uma senhora nascida em 1904, filha de pais divorciados, uma mulher lutadora, com a 4ª Classe, que aos 21 anos tirava a carta de condução. Hoje tenho pena de não lhe ter feito mais perguntas, sabido mais daqueles tempos. Lembro-me que era sempre das primeiras a depositar o seu voto assim que abriam as mesas até aos seus 90 anos, orgulhosa da sua idade e do direito adquirido com a chegada da liberdade, “dantes as mulheres não podiam votar” esclarecia.
Um documentário a não perder, muito bem realizado que nos perturba e faz dar mais valor à liberdade em que vivemos. O tempo voou, num desfilar de imagens e sentimentos que elas me provocaram por dentro.
Senti-me ambivalente, com a beleza das imagens e a crueza da época que retratam.

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