sábado, 8 de março de 2008

Dia da Mulher...

I
A porta da rua bateu com força, mais uma vez chegou a casa mal disposto, provavelmente cheio de vinho, o dia não lhe correu bem.
Continuei a fazer os meus trabalhos, a porta de saída para a minha vida. Alheada dos gritos entre os dois, estoirada, depois de ter feito os dela, como sempre, para entregar no curso do IEFP e justificar o subsídio de desemprego. Há anos que ela não fazia nada, nem procurava fazer.
Os gémeos choravam.
II
Os gritos e as vozes deles aumentaram e aproximaram-se do meu quarto.
- Maria porque é que não fizeste o jantar, eu disse-te para limpares o pó do meu quarto, o teu pai está furioso contigo, não fazes nada. Vês, eu não te digo que ela é uma inútil, uma preguiçosa, tens que a castigar – gritava ela vermelha.
- Vem imediatamente fazer o jantar, ou não sabes o que te acontece, tenho fome.
Senti-o descontrolado e temi o pior.
Tarde demais, entraram os dois no meu quarto, ele à frente transfigurado de raiva, de vinho e com o cabo da vassoura empunhado. Adivinhando o pior, tentei fugir mas fiquei encurralada.
III
Não sei quanto tempo depois voltei a mim, no chão. A cabeça latejava, as dores eram insuportáveis. Eles olhavam para mim. Os gémeos gritavam na sala.
- Temos que a levar ao hospital, não parece bem.
- Vai tu.
IV
- Estas marcas no ombro e nas costas estão muito feias e a pancada da cabeça preocupa-me, poderá ter consequências. Traumatismo craneano. Uma queda Maria?
- Pois senhor doutor ela caiu – disse ela encenando a sua voz mais preocupada.
- Tens a certeza que caíste Maria?
Olhei para ela, para o médico e balbuciei com a voz trémula e pouco convicta:
- Sim caí - E rezei para que ele não acreditasse.

Mas ele acreditou... ou quis acreditar!

Fechei os olhos e pensei pela milésima vez na frase mágica que me dá força quando o corpo e a alma me doem:

“Já só faltam 2 anos para a minha vida começar!”

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Esta é uma história real. Passada em Lisboa, 2008. Uma das muitas situações com que infelizmente sou obrigada a lidar, no meu dia a dia profissional.
Serei feliz no dia em que não for necessário comemorar um
Dia Internacional da Mulher.

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