terça-feira, 13 de outubro de 2009

(Antó)nimo...

Porque há 50 anos Jorge de Sena, engenheiro, partiu para o exílio por causa da ditadura e nunca mais voltou.
E não só...
ENCONTRO
Tu vinhas pela rua
e, creio,
na intenção de não me ver.
Eu fiquei observando
o teu aproximar
e não pensava
e não dizia nada a mim mesmo.
Mas quando passaste ao meu alcance,
mas porquê?
Sem querer, chamei-te.
Para ti nada tem memória positiva
e falaste-me sorrindo
como se nada tivesse acontecido,
como se fosses tu quem me chamasse.
Os passos que demos lado a lado
chegaram a ser contentes
e mais leves...
Despedimo-nos,
de tácito e repentino acordo.
Não me lembrei de olhar
o teu vulto ao afastar-se...
E tudo o que arranjara
para te dizer,
quando um dia te encontrasse,
apesar de ter princípio, meio e fim,
não apareceu, não flutuou,
ficou dentro de mim,
ficou longe de mim,
e bem sei que agora nunca mais sairá.
27-28/10/1938
Jorge de Sena in Post-Scriptum II, 1985
Gentilmente cedido por http://www.ruialme.blogspot.com/

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