E que aflição me faz, sentir a despessoalização do espaço que tantas recordações me traz. No outro dia espreitei para a grande escadaria da entrada. Já não é tão imponente... está gasta e em vez do armário onde o meu pai cada dia que chegava a casa depois de um dia de trabalho pendurava o seu casaco, há um elevador! Dizem que a cave onde inventava mil aventuras é hoje um calabouço! E o sótão? onde descobriamos relíquias dos tempos dos bailes da minha avó? e a capela, onde casei todas as minhas bonecas? e o jardim com mil esconderijos por onde passeavam livres os 4 patinhos, um azul, um verde, um amarelo e um vermelho? E o canteiro dos girassóis? E o quartinho dos brinquedos? E o atelier dos meus pais?
Tudo transformado em prateleiras impessoais repletas de pastas de arquivos poerentas e secretárias com computadores obsoletos certamente!
"nunca voltes ao lugar onde já foste feliz" (carlos T)
Terrain d'aventures da minha infância, entre a casa de putos amigos-colegas do Liceu Camões e a da tia 'Craveira' que me abonava vintinhos de cada vez que por lá passava -dia sim dia não, claro!- à mistura com umas esfregas na prima-criada importada das Beiras.
E vai, um dia destes, o'chefe' da esquadra e, puxando-me '20cm mais para o lado, a evitar o guarda de guarda à porta e diz-me, entre o cúmplice e o amistoso, a evitar a situação que comuniquei e que exigia intervenção deles, polícias -Sabe...? 'Isto' é um país muito pequeno... e somos todos mais ou menos primos uns dos outros...' -Não somos nada primos!, exclamei; juntei mais umas afirmações e voltei-lhe as costas - era um puto, mulato-escuro, nascido não seiquando e onde a sugerir semelhanças e vivacidades em tom prefessoral: 'Sabe...? É um país muito pequeno...'.
Entende como entendo o seu desgosto -maior!- ao olhar para o tal elevador?
Esqueci-me de dizer que a tia 'Craveira' (chamava-se Emília e era uma engraçadona que passou a vida na 'cobóiada') morava na Barbosa du Bocage; quando iamos lanchar à Colombo quem pagava as favas era a prima-importada - eu culpabilizava-a pelo tempo perdido e exigia 'compensações'. Todos os putos são cabrõezões!
(Às tantas conhecemo-nos; dali, queria eu dizer...)
6 comentários:
Transversal à Filipe Folque ou à 5 d'Outubro...
somos...
fomos! vzinhos?
Av João Crisóstomo, 42
Hoje uma esquadra de polícia!
E que aflição me faz, sentir a despessoalização do espaço que tantas recordações me traz.
No outro dia espreitei para a grande escadaria da entrada.
Já não é tão imponente... está gasta e em vez do armário onde o meu pai cada dia que chegava a casa depois de um dia de trabalho pendurava o seu casaco, há um elevador!
Dizem que a cave onde inventava mil aventuras é hoje um calabouço!
E o sótão? onde descobriamos relíquias dos tempos dos bailes da minha avó? e a capela, onde casei todas as minhas bonecas? e o jardim com mil esconderijos por onde passeavam livres os 4 patinhos, um azul, um verde, um amarelo e um vermelho? E o canteiro dos girassóis? E o quartinho dos brinquedos? E o atelier dos meus pais?
Tudo transformado em prateleiras impessoais repletas de pastas de arquivos poerentas e secretárias com computadores obsoletos certamente!
"nunca voltes ao lugar onde já foste feliz" (carlos T)
Nem mais!
Terrain d'aventures da minha infância, entre a casa de putos amigos-colegas do Liceu Camões e a da tia 'Craveira' que me abonava vintinhos de cada vez que por lá passava -dia sim dia não, claro!- à mistura com umas esfregas na prima-criada importada das Beiras.
E vai, um dia destes, o'chefe' da esquadra e, puxando-me '20cm mais para o lado, a evitar o guarda de guarda à porta e diz-me, entre o cúmplice e o amistoso, a evitar a situação que comuniquei e que exigia intervenção deles, polícias
-Sabe...? 'Isto' é um país muito pequeno... e somos todos mais ou menos primos uns dos outros...'
-Não somos nada primos!, exclamei; juntei mais umas afirmações e voltei-lhe as costas - era um puto, mulato-escuro, nascido não seiquando e onde a sugerir semelhanças e vivacidades em tom prefessoral: 'Sabe...? É um país muito pequeno...'.
Entende como entendo o seu desgosto -maior!- ao olhar para o tal elevador?
Esqueci-me de dizer que a tia 'Craveira' (chamava-se Emília e era uma engraçadona que passou a vida na 'cobóiada') morava na Barbosa du Bocage; quando iamos lanchar à Colombo quem pagava as favas era a prima-importada - eu culpabilizava-a pelo tempo perdido e exigia 'compensações'.
Todos os putos são cabrõezões!
(Às tantas conhecemo-nos; dali, queria eu dizer...)
Giro, coisas giras: Rua João Crisóstomo, 42...lol... em frente, no 41, nos anos 80 is, passei por lá alguns fins de semana
E o mundo é mesmo pequeno!
Teka
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